Nicósia

Passei o Natal em Nápoles e, pela primeira vez, fiquei longe da família durante o final do ano. Embora diferente, acabou sendo dias agradáveis. O albergue organizou uma pequena festinha de véspera de Natal com um Panetone e uma garrafa de champanhe. Decidi comprar um Pandoro quando descobri que há uma rivalidade divertida em Nápoles entre os fãs de cada bolo durante esta época do ano. Demos boas risadas comparando quem preferia o quê e por quê. Depois de saborear os doces, um pequeno grupo de nós fomos a um pequeno local que tinha karaokê. Quando chegamos, havia uma grande família comemorando um aniversário. A família inteira estava lá, velhos e novos. O mais novo, eu acho, tinha cerca de cinco anos e gostava muito de cantar. Depois de algumas músicas, estávamos aplaudindo uns aos outros e cantando junto. Quando chegou a hora de cantar "Parabéns", todos nós nos juntamos, e eles dividiram o bolo de aniversário conosco. Nos dias seguintes, o mesmo grupo visitou Herculano e fez alguns passeios a pé juntos.

Esse espírito acolhedor também aconteceu no Nanà Center, que visitei algumas vezes. Fui apresentado ao centro pelo coordenador de voluntários que conheci nos meus primeiros dias. O foco principal do centro é dar suporte a menores estrangeiros desacompanhados e jovens adultos. As coisas estavam um pouco lentas durante meu tempo lá, pois era o fim do ano, mas pude aprender um pouco sobre o que eles fazem e conhecer a equipe. Na hora do almoço, todos se reuniam em volta de uma mesa grande. Alguns traziam almoços de casa, enquanto outros compravam comida de lugares próximos. Todos os dias que estive lá, eles paravam de trabalhar para almoçar. Eles conversavam sobre uma grande variedade de coisas. Como era tudo em italiano, só consegui entender um pouco. Ocasionalmente, eles nos explicavam as coisas. O meu tempo lá coincidiu com uma voluntária de Portugal, e comentamos que parecia estarmos assistindo um programa de TV se enquanto comíamos e tentávamos entender o que estava sendo dito.

Dois dias antes do fim do ano, embarquei para Chipre, onde começaria meu período de voluntariado de duas semanas no Cyprus Dignity Centre. Cheguei em Nicósia no dia 31. No caminho, a coordenadora de Chipre me informou que o apartamento para voluntários estava disponível e que eu poderia me mudar no mesmo dia. Originalmente, ele não estaria aberto até o dia 2. Esta atualização foi graças a outra voluntária de Paris que já havia trabalhado com a organização e, alguns dias antes, havia decidido passar uma semana em Chipre. Nós passamos a véspera de Ano Novo no apartamento, onde fizemos chá e comemos chocolate. Eu não estava planejando ficar acordado até meia-noite, mas enquanto conversava com meus irmãos, meu irmão mencionou o quão único era eu estar tão à frente deles durante o Ano Novo e sugeriu que eu ficasse acordado para vivenciar isso. Fiquei acordado um pouco depois da meia-noite e pude desejar a eles um Feliz Ano Novo e um Feliz Aniversário para minha irmã. Da janela, pudemos ver alguns fogos de artifício e fizemos a contagem regressiva em pé sobre uma perna para começar o "ano com o pé direito". A cidade parecia excepcionalmente tranquila para o Ano Novo, mas essa parece ser a vibe em Nicósia: muito tranquila. Na manhã seguinte, tomamos café da manhã e caminhamos até o centro, o que levou cerca de 30 minutos. Mais ou menos na metade do caminho, nos deparamos com meu primeiro divisor de Linha Verde. Ver o arame farpado, as câmeras e as placas de alerta pessoalmente teve um impacto maior do que eu esperava.

Os turnos no centro vão das 9 às 5, que nos dá uma hora da manhã para organizar as coisas e planejar o dia. No meu primeiro dia, passei a maior parte do meu tempo no Mercado. É aqui que os requerentes de asilo podem vir uma vez por semana para receber comida. A loja opera em um sistema de pontos. As famílias recebem pontos por semana com base no número de pessoas na casa, e podem escolher itens que somam seus pontos totais. Este método foi escolhido porque não só permite que eles selecionem o que atende às suas necessidades, mas também acrescenta uma sensação de normalidade, permitindo que eles mesmos comprem os itens. No meu segundo dia, comecei a aprender sobre outra área em que o centro ajuda: auxiliar com processos burocráticos. Os requerentes de asilo e refugiados vêm ao centro para obter ajuda com procedimentos como abrir uma conta bancária, criar e configurar contas para o sistema de emprego e saúde, e outras necessidades administrativas. Esses processos são complexos, muitas vezes envolvendo formulários longos, agendamento de consultas e uploads de documentos. Sem o centro, muitos membros não seriam capazes de navegar nesses sistemas ou poderiam procurar ajuda de oportunistas que cobram por esses serviços.

Nos dias seguintes, mais dois voluntários chegaram. Nós quatro nos demos muito bem, apoiando uns aos outros enquanto aprendíamos as várias tarefas e aproveitando nosso tempo livre no apartamento. Cozinhamos, brincamos baralho, assistimos a filmes e relaxamos lendo livros. Durante nosso primeiro fim de semana juntos, planejamos uma caminhada pela próximo a Linha Verde e cruzamos para o lado norte da cidade. Foi estranho atravessar. Estávamos caminhando numa rua normal na cidade e, sem muito aviso, chega ao cruzamento onde deve apresentar seu passaporte para continuar. Do outro lado, uma nova moeda, idioma e até mesmo fuso horário diferente. Embora parecidas a outras travessias internacionais em muitos aspectos, saber que a cidade inteira estava dividida por conflitos deu uma sensação mais pesada e sombria. Do outro lado, desfrutamos de bolo e um almoço muito bom em uma livraria. O espaço era como uma casa antiga cheia de livros e decorações ecléticas, com mesas espalhadas por toda parte. Parecia jantar na biblioteca pessoal de alguém.

Conforme os dias passavam, continuei aprendendo mais sobre a organização e os membros que visitam o centro. Suas idades, idiomas e países de origem variam muito. Alguns estão aqui há anos, enquanto outros chegaram há apenas algumas semanas. O centro, que existe há cinco anos, é uma entidade bem conhecida no país. As pessoas contam para os outros, que traz membros novos e antigos, é um local de boas-vindas e positividade. Como alguns de vocês já devem saber, comecei uma página de arrecadação de fundos para ajudar a arrecadar dinheiro para o centro. Eles dependem exclusivamente de doações e cada quantia ajuda. Por favor, considere doar e compartilhar com seus amigos e familiares.

Meu próximo destino será um desvio um pouco não planejado. Decidi ir para o Brasil por alguns meses para passar um tempo com minha mãe e ajudá-la com alguns processos. Depois disso, volto para a Europa para continuar minha jornada para Asia.












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