Cuba

Ao continuar a conhecer Havana, eu me encantei pelos "contrastes e contradições" de Cuba, como disse tão bem um dos meus novos amigos. Eu continuei a ver dificuldades e disparidades misturadas com esperança e generosidade. Eu posso imaginar tempos passados ​​quando as coisas eram menos difíceis e cheias de generosidade e bem-estar, como descrito por muitos que eu conheci durante a minha estadia. Espero que de alguma forma eles encontrem um caminho de volta para isso, em vez de continuar na direção que parece estar indo.

A generosidade que eu encontrei tocou em mim de uma forma que eu não sentia desde a infância. Um momento que realmente se destacou aconteceu enquanto eu caminhava em Vedado durante os fortes ventos do furacão Helene. Eu vi uma senhora com uma muleta em uma mão e uma sacola de compras na outra. Sem pensar, eu fui ajudá-la. Quando eu me aproximei, sem hesitação e antes que eu dissesse qualquer coisa, ela entregou a sacola para mim e pegou minha mão. Havia um sentimento claro de gratidão, mas ao mesmo tempo sem hesitação ou medo de ser ajudado. Foi uma sensação que reconheci instantaneamente e, de muitas maneiras, tenho buscado desde que era um garoto no Brasil.

No entanto, meu tempo aqui também me lembrou de como as coisas têm ficado difíceis. Encontrar qualquer coisa pode tornar algo muito mais complexo. Por exemplo, uma manhã no albergue, enquanto ajudava com o café da manhã, descobri que a bomba de água, que empurra água para as caixas de agua, parou de funcionar. O dono passou o dia inteiro e parte do próximo tentando improvisar peças e usar pura engenhosidade para fazer funcionar novamente. Ajudei um pouco, mas não foi nada comparado ao tempo e energia dele. No final, na melhor das hipóteses, uma solução temporária até que inevitavelmente falhasse novamente. Se eu estivesse em qualquer outro lugar onde morei, teria ido à loja e comprado uma peça nova, ou até mesmo uma bomba nova. Mas aqui, mesmo se tivesse dinheiro, simplesmente não se encontra coisas. Outro exemplo ainda mais simples, foi quando sua esposa falou que estava procurando pasta de dente por alguns dias. No dia seguinte, enquanto estava em outra parte da cidade, pensei em perguntar a uma das lojas — e, por acaso, eles tinham.

Voltei para Havana Velha muitas vezes. Andando por suas ruas era como entrar em um futuro distópico de prédios em ruínas e pilhas de lixo em algumas áreas devido à infraestrutura insuficiente. Mas em contraste com isso, havia paisagens surreais e a beleza incrível da ilha. Uma das coisas mais incríveis que já vi aconteceu no pôr do sol, depois que as chuvas e os ventos do furacão passaram. Saí para jantar e vi o pôr do sol atrás de um prédio. Decidi ir ao Malecón para ter uma vista melhor. Quando cheguei, me deparei com uma cena impressionante: o mar estava agitado, enviando onda após onda quebrando contra as paredes, com enormes plumas de água subindo duas ou três vezes a minha altura.

Embora não fizesse parte do meu plano original, depois de várias sugestões, decidi visitar Viñales, uma pequena cidade rural conhecida por suas atividades ao ar livre e agroturismo. Muitas casas estão abertas como “casas particulares” (onde pessoas pagam para ficar em um quarto), todas claramente marcadas e muito bem organizadas. Existem inúmeras trilhas, cavernas, passeios e opções de escalada. Fiquei em uma casa recomendada pelos donos do albergue em Havana. Era um albergue administrado por uma mãe e filha. Mais uma vez, fui recebido como família. Depois de chegar, a filha me trouxe suco fresco e me mostrou um mapa da área, explicando todas as coisas que eu poderia fazer. Ela então perguntou em quais atividades eu estava interessado e me deu mais detalhes sobre como seguir. Visitamos uma fazenda de tabaco, onde fumei um charuto enrolado à mão, e outra fazenda onde comprei Guayabita del Pinar, um delicioso licor local. No dia seguinte, aluguei uma bicicleta de um Couchsurfer que me enviou ótimas dicas sobre Cuba e Viñales. Pedalei pela paisagem única cheia de mogotes, visitei uma caverna bem conhecida e segui para o Lago del Tibo.

Além dessas experiências, também tive algumas conversas que moldaram novos pensamentos e ideias para mim. Uma delas veio de uma conversa com uma mulher incrível, Musa Alves, que tem uma mentalidade questionadora e revolucionária semelhante a minha. Ao comparar Cuba a outros lugares em que estivemos, percebemos uma diferença fundamental: a ausência de propaganda, que é para nos fazer querer e comprar mais. Não apenas anúncios físicos como outdoors, mas também digitais, como as mensagens SMS que recebo das empresas telefônicas no momento em que chego no Brasil. Nós chamávamos isso de "sussurro do consumismo" — é como se alguém constantemente sussurrasse em seu ouvido para comprar algo. À medida que conversávamos mais, ficou mais claro como a ausência disso poderia afetar uma sociedade. Primeiro, reduz a tentação de querer constantemente mais e coisas maiores, o que, que também aumenta o desperdício e o uso de recursos. Segundo, mesmo se tu não sucumbas aos anúncios, a presença constante estimula demais a mente. Depois de alguns dias aqui, senti minha mente se estabelecer em um estado mais tranquilo, e não só lutando contra o fluxo constante de propaganda. Claro, esses anúncios existem para gerar lucro, alimentados pela ganância. Mas nós perguntamos: se houvesse uma redução grande, ou total, na publicidade e as pessoas comprassem apenas o que precisavam quando precisavam, viveríamos em um mundo menos estressado, menos poluído e menos destruído?













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