Vietnã
O Vietnã estava no topo da minha lista há muito tempo. Era também um dos lugares onde eu esperava fazer trabalho voluntário. Mas não era para onde eu imaginava ir depois da Índia. Como meu caminho estava se movendo para o leste, o plano era parar na Tailândia para visitar amigos e depois seguir para o Vietnã. Acontece que meus dois amigos estavam fora do país durante esse período, então mudei de ideia e coloquei o Vietnã no topo da lista. Voltei ao site que uso para encontrar trabalho voluntário e encontrei uma ONG chamada Catalyst for Change, que, entre outras coisas, trabalha com uma rede de centros de ensino de inglês. Normalmente, prefiro planejar as coisas com um pouco de antecedência, mas acabou sendo uma boa oportunidade para praticar a calma quando os planos mudam. No final, tudo deu muito certo. A ONG tem muitos centros em sua rede e, perto do final do processo, descobri que iria para uma pequena vila no norte do país. Voei para Hanói e minha anfitriã foi até o aeroporto para me buscar.
Ela é dona e administra o centro sozinha, que se tornou uma escola de sucesso com mais de cem alunos entre sete e treze anos. Ela faz tudo isso enquanto estuda para vários diplomas, cuida da família com o marido e, juntos, tocam a fazenda de camarões deles. Eu estava ansiosa para começar. Ela explicou que eu daria algumas de suas aulas sozinho, algumas daríamos juntos e outras ela continuaria lecionando. Eu não dava uma aula completa sozinho desde o meu trabalho voluntário em um programa extracurricular no Brasil, e gostei de voltar a fazer isso. Cada aula tinha uma hora e meia, então eu precisava me preparar e saber o que faria a cada dia. Ela reuniu muitos livros e materiais didáticos ao longo dos anos e me ajudou a entender o que ensinar para seguir seu currículo e seus objetivos. Depois das primeiras aulas, tudo pareceu familiar e fluiu naturalmente.
Sempre que possível, ela organizava atividades fora do centro. Um dia, fomos a um campo próximo com uma das turmas. Fomos de bicicleta, dois adultos com dezoito alunos. Os meninos e uma menina estavam ansiosos para jogar futebol. A princípio, pensei em apenas assistir, mas a divisão dos times que tínhamos feito na noite anterior acabou ficando um pouco desequilibrada, e os alunos logo perceberam. Então, ela me pediu para jogar e ajudar a equilibrar as coisas. Hesitei porque da última vez que joguei uma partida informal de vôlei de praia, machuquei as costas. Lembrei-me de ter cuidado e atenção aos meus movimentos. Joguei principalmente na defesa e consegui não me machucar. Nos divertimos muito e ninguém parecia estar marcando pontos, o que achei ótimo. Depois, tomamos chá gelado e comemos frutas. Uma delas, chamada Quả cóc, ou cajá-manga, era novidade para mim. É verde, crocante, levemente ácida, e comemos com sal e pimenta em pó.
Em um dos meus dias de folga, visitei Hang Múa com o taxista da vila, que também me acompanhou na exploração da região. As montanhas e vales são belíssimos e me lembraram de quando visitei Viñales, em Cuba. Pesquisei um pouco e descobri que compartilham uma topografia conhecida como cárstica. Além de uma pequena caverna que se pode atravessar a pé, o destaque são os mais de quinhentos degraus que levam ao topo de uma montanha. Alguns degraus eram íngremes e tornaram a subida um ótimo exercício. Entre as montanhas e rios, avistamos também um campo de plantação lótus e, só depois de observar por um tempo, percebi que os caminhos dentro dele formavam o desenho de uma flor de lótus. Mais tarde, caminhamos por esses caminhos e vimos as flores de lótus de perto, inclusive algumas florindo.
Tive a sorte de desfrutar de refeições caseiras todos os dias. A proximidade com o oceano me permitiu experimentar diversos tipos de frutos do mar. Almocei com a família quase todos os dias e também depois da nossa última aula. A variedade de peixes e os diferentes preparos eram maravilhosos, e experimentei muitas coisas que nunca havia provado antes. Também apreciei muito o chá de leite com pérolas de tapioca (trà sữa). Há lojas de chá de leite por toda a vila, e é muito popular. A única coisa que achei interessante é que o chá sem açúcar não era comum. Sempre vinha com um pouco de açúcar, mas ainda assim era muito saboroso.
Alguns dias antes da minha partida, era o Dia do Professor. A maioria das escolas estava fechada e os professores tinham o dia de folga, inclusive nós. De manhã, fomos com toda a família comprar uma jaqueta para mim e depois almoçamos em um bufê onde cada mesa tinha uma pequena churrasqueira para preparar a comida. Mais tarde, de volta em casa, ela convidou cerca de dezoito alunos para sua casa para passar um tempo juntos e jantar. Brincamos até a hora de comer. Ela então colocou a comida no chão da sala de estar e todos nós nos sentamos ao redor em um grande círculo para compartilhar a refeição.
Houve muitos outros momentos marcantes durante minha estadia lá, tantos que seria impossível listar todos. Vi muita gentileza e trabalho árduo por toda parte. Em uma pequena salina que visitamos, uma senhora trabalhava sozinha usando um processo manual e lento que parecia ser feito da mesma maneira há gerações. Também notei que em muitas obras cerca de metade dos trabalhadores eram mulheres, algo muito diferente de outros lugares que visitei. Acima de tudo, vi o quanto minha anfitriã se importa com sua família, seus alunos e com a comunidade em geral. Sua dedicação às pessoas ao seu redor foi uma parte importante do tempo que passei lá.












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