O plano Inicial
Tive a sorte de ter tido uma infância cheia de aventuras. Grande parte desse tempo foi passado em uma mata perto de nossa casa no Brasil, onde a vegetação nativa permaneceu parcialmente intocada. Havia muitas árvores grandes e arbustos densos. Jogávamos e explorávamos áreas onde imaginávamos que ninguém havia pisado antes de nós. Este sentimento de aventura estendeu-se para além da nossa vizinhança, inspirado em livros, filmes, nos meus irmãos e no ensino contínuo dos nossos pais sobre muitos assuntos, incluindo geografia e política. Me lembro de certas coisas com mais nitidez, como quando meu pai trouxe para casa um mapa do mundo e o pendurou na sala de estar. Passávamos tempo juntos, aprendendo sobre terras distantes e imaginando visitá-las. Também lembro que minha mãe costumava contar seu sonho de viajar de carro pelas Américas. Muitos anos depois, ela faria parte desse sonho uma realidade, embarcando em uma viagem de carro e trem pelos Estados Unidos.
No início da minha adolescência, nossa família se mudou para Oregon, ampliando ainda mais nosso conhecimento e nosso espírito explorador. Alguns anos depois comecei a considerar a possibilidade de me tornar piloto. Não só ajudaria na parte financeira, mas também me permitiria viajar pelo mundo. No entanto, foi nessa época que descobri que era daltônico e que não seria capaz de perseguir esse caminho. Em retrospectiva, acredito que isso foi para melhor. Com o passar do tempo, aprendi que a realidade dos funcionários do setor aéreo é bastante difícil. Muita responsabilidade, horários exaustivos e compensações que não são justas. Minhas viagens e aventuras continuaram em pequenas doses ao longo dos anos; mas sempre esperei fazer muitas mais algum dia.
Em abril de 2022, meu pai faleceu. Tudo começou inesperadamente no início de março, com lapsos aleatórios e episódios que pareciam convulsões. Depois de algumas semanas cansativas desses episódios, perguntas sem resposta e uma bateria de exames, foi confirmado que ele havia sofrido um derrame. A essa altura, seu estado havia se deteriorado muito e não restava muito tempo. Tive a sorte de poder estar com ele durante essas semanas. Também abriu meus olhos para a natureza mecânica e quebrada do sistema de saúde. Mesmo com condições de pagar por atendimentos particulares mais caros, o processo parecia frio e calculado, onde cada profissional fazia sua parte e repassava para o próximo. É muito eficiente e econômico, mas também bastante desumano. Isso tornou esta situação difícil ainda pior. No entanto, foi quando conheci algumas das pessoas mais carinhosas e solidárias na minha vida. Não imagino como teria sido sem elas. Igualmente indispensável foi o apoio de todos os nossos familiares e amigos. Como a maioria das experiências humanas, ouvir ou ler sobre algo nunca é a mesma coisa que experimentá-lo em primeira mão. Isso me fez valorizar muito mais a vida e mostrou profundamente o quão frágeis somos e como tudo pode passar rápido.
Cerca de um ano depois, enfrentei meu desafio físico mais difícil até hoje. Minha parte inferior das costas, no qual havia tido problemas ao longo dos anos, comprimiu um nervo, causando fortes dores na perna esquerda. Após vários exames, recebi a boa notícia de que não havia nenhuma complicação grave. A dura notícia era que levaria algum tempo para sarar. Por cerca de um ano, senti dores na perna esquerda, com vários níveis de dor. Com a ajuda de familiares, amigos e profissionais, consegui aos poucos me recuperar e fortalecer meu corpo próximo ao que era antes. Sou especialmente grato à minha companheira por seu cuidado e incentivo ao longo daquele ano. Houve dias em que tinha dúvida se algum dia seria capaz de me mover sem dor.
Compartilho esses eventos porque eles moldaram o início de minha decisão de viajar pelo mundo. Como acontece com qualquer resolução desse tamanho, quando as idéias começam a tomar forma, muitos aspectos precisam ser avaliados. Para mim, o aspecto mais importante que eu precisava considerar era a distância de pessoas importantes. Meu irmão e sua família que foram fundamentais na minha decisão de me mudar para Boulder há 10 anos. Minha irmã e sua família que, após meses de planejamento, se mudaram para Boulder assim que a pandemia de Covid começou – uma transição que continua a ser um desafio. E a parte mais difícil, a separação da minha companheira de 10 anos. Depois de muitas conversas carinhosas e respeitosas chegamos à difícil conclusão de que era o melhor caminho para nós dois. Ficar juntos quando cada um de nós queria um caminho diferente poderia ter nos levado ao ressentimento ou arrependimento. Não queríamos que esses sentimentos fizessem parte da nossa união. Nos preocupamos muito um com o outro e desejamos tudo de melhor para nós dois.
E assim, com muito carinho, comunicação e avaliação, vou sair do meu trabalho e viajar pelo mundo. Não estabeleci uma data final. Em vez disso, espero viajar o máximo que puder com o orçamento que guardei. Ao pensar nesta fase, quis avaliar se poderia haver mais do que apenas passear e visitar países diferentes. Entre outras coisas, descobri que compreender as minhas necessidades, algo que aprendi com a Comunicação Não-Violenta, foi muito útil. Concluí que minha jornada terá como foco as pessoas. Isto incluirá: visitar e passar tempo com a família e amigos, fazer novas amizades e quando puder ajudar ser voluntário em organizações com foco na ajuda às pessoas. Para facilitar isso, pretendo viajar em um ritmo mais lento e ficar em um local por algumas semanas de cada vez.
Minha jornada se concentrará principalmente no sul da Europa e na Ásia. Antes de cruzar o Atlântico, há algumas coisas que gostaria de fazer deste lado do globo. Começando por Nova Orleans e depois seguindo para a Flórida. Recentemente soubemos que nosso bisavô residia em Pensacola, então pretendo ficar um tempo lá. Da Flórida partirei para Cuba antes de seguir para a Europa. Segue a imagem com um caminho geral que espero percorrer.
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